Fonte: Blog ponto de Ônibus
Empresa se diz otimista, apesar da crise brasileira que afeta o setor
de veículos pesados
Foi exatamente num sábado dia
06 de agosto que surgia uma gigante nos transportes por ônibus: a Marcopolo.
A empresa na verdade foi criada
com a denominação Nicola.
Nicola era a família fundadora
da modesta fábrica inaugurada em 06 de agosto de 1949.
Os irmãos Dorval, Doracy e
Nelson Nicola haviam montado um simples galpão de 290 metros quadrados na
periferia de Caxias do Sul.
Eles vislumbravam o crescimento
urbano do Brasil, na época do pós Segunda Guerra Mundial, que significava um
novo alento e uma nova esperança para um planeta arrasado e ressentido de uma
das mais sangrentas disputas que havia dividido o mundo em dois.
Com o desenvolvimento das áreas
urbanas, o País deixava aos poucos de ser predominantemente rural. Isso mudava
o estilo de vida das pessoas. Se antes quase elas não precisavam se deslocar,
pois moravam onde trabalhavam, normalmente nas lavouras, as cidades tinham um
cenário diferente.
Havia os centros geradores de
emprego e renda, onde ficavam as indústrias e o comércio, e as vilas de
trabalhadores, que se tornavam cada vez mais distantes com a expansão do número
de habitantes das cidades e a valorização dos terrenos nos centros comercias,
industriais e ao lado das linhas de trem.
Os trilhos não tiveram a
velocidade e a flexibilidade para acompanhar este crescimento. Um erro, na
verdade, pois muitas metrópoles hoje, na época em que eram apenas cidades em
expansão, planejavam o crescimento metroferroviário se não no mesmo ritmo, mas
pelo menos não muito defasado em relação à velocidade do crescimento urbano.
Mas não apenas um erro, uma necessidade
também. Não é possível comparar o crescimento de um pais tão grande e com
relevos e realidades regionais tão desiguais como o Brasil com nações como da
Europa, por exemplo.
Assim, o ônibus no Brasil não
foi só uma opção. Foi a única resposta rápida e disponível. Não havia tempo e
nem dinheiro para levar os trilhos para todos os locais. Também não era
possível atender com os trilhos regiões de aclives e declives muito acentuados.
Os Nicola perceberam esta forma
e velocidade de crescimento do País e não quiseram perder a oportunidade. Eles
sabiam que o ônibus ia se desenvolver, mas talvez não imaginavam que seu galpão
em Caxias do Sul seria o embrião de uma das maiores produtoras mundiais de
ônibus. A Marcopolo, desde a época da Nicola, produziu mais de 200 mil
carrocerias de ônibus em todo o mundo.
Os irmãos Nicola se
aproveitaram também dos benefícios trazidos à indústria com a maior facilidade
de escoamento da produção pela recente criação da BR 116, que oito anos antes
da fundação da encarroçadora, em 1938, portanto, chegava à região de Caxias do
Sul.
A ENTRADA DE UM NOVO INVESTIDOR:
Os Nicola tinham fundado a
Marcopolo com outros oito sócios, a maioria de família alemã. Menos de dois
anos depois da fundação, os sócios saíram do negócio e voltaram para Novo
Hamburgo, no Vale dos Sinos, em Rio Grande do Sul.
Paulo Pedro Bellini, um jovem
com 22 anos, mas de muita visão, enxergou na encarroçadora uma oportunidade de
crescimento. E a escolha foi acertada.
O jovem precisou da ajuda do
pai, Alberto Bellini, para completar o dinheiro que precisava para comprar a
parte que era dos alemães: 240 mil cruzeiros, em 1951, o que hoje
corresponderia a cerca de R$ 180 mil (valor que nem dá hoje para comprar um
micro-ônibus).
Foi um negócio que exigiu visão
de futuro, pois apesar de já ter suas encomendas, a Nicola ainda estava muito
longe de se tornar firme no mercado. Na época, havia uma série de oficinas que
trabalhavam com madeira e construíam carrocerias de ônibus, ou melhor,
jardineiras rústicas encarroçadas sobre chassis de caminhão.
A MÃO AMIGA DA CO-IRMÃ NA ERA DO AÇO
Até então a fabricação de
carrocerias era praticamente artesanal e, além de exigir muito esforço, técnica
e arte, demandava bastante tempo. Se encontrava de todo o tipo de madeira, mas
as mais adequadas e de qualidade superior para resistir à operação dos ônibus,
já que não poderia ser como a montagem de um móvel que não é submetido a
solavancos e ação de intempéries, eram madeiras do tipo Angico, Caneca, Açoita
–cavalo e Cedro.
No entanto, a madeira para
carrocerias de ônibus já era passado em boa parte do mundo. Os ônibus que eram
importados por grandes empresas como Viação Cometa e Expresso Brasileiro já
eram metálicos e ditavam tendências.
Quem não seguisse a era do aço
ficaria para trás.
A GM com seu monobloco nos anos
de 1940 e a Carbrasa em 1941 teriam sido as primeiras empresas a usar estrutura
metálica.
As demais não poderiam perder a
concorrência.
A Nicola foi buscar numa
empresa concorrente, porém com um fundador humano e com espírito profissional,
o conhecimento para atuar de maneira melhor com o aço.
José Massa, fundador da CAIO,
abriu as portas da sua empresa para Paulo Pedro Bellini e mostrou como era a
produção para os técnicos da Nicola.
A Nicola teve depois de
desenvolver seus produtos e suas técnicas, mas a ajuda de Massa foi
fundamental.
Tanto é que em 1954, a empresa
tinha o nome alterado para Carrocerias Nicola S.A. Manufaturas Metálicas.
Para expandir os negócios e
atender a demanda que crescia, a Nicola precisou aumentar o seu parque fabril.
Tarefa que não foi fácil.
Bellini decidiu correr o Brasil
vendendo a prazo ações da empresa.
Isso contribui para a
inauguração da Unidade Planalto, também no Rio Grande do Sul, em 1957, que
inicialmente tinha 3,1 mil metros quadrados.
Neste mesmo ano, a indústria
automotiva recebia um grande incentivo governamental, o que demonstrava a opção
do poder público pela política rodoviarista.
Era criado o GEIA – Grupo
Executivo da Indústria Automobilística, que auxiliava no financiamento, na
execução de políticas e no estabelecimento de novos padrões técnicos.
Os pedidos por veículos
automotores, acompanhando o maior ritmo de urbanização das cidades, cresciam.
Um ótimo sinal para as
fabricantes, mas também um desafio. Já que elas tinham de se adaptar para
atender essa demanda maior.
A Nicola começou a negociar com
duplicatas para conseguir dinheiro rápido para aumentar a linha de produção,
modernizá-la, comprar matéria prima e contratar mais funcionários.
Com o passar do tempo, parte da
família Nicola havia decidido fundar um outro negócio.
Em 1960, os irmãos Doracy Luiz
Nicola e Nelson João Nicola criaram uma empresa que reformava carrocerias e que
começava a fabricar os próprios modelos. Era a Carrocerias Manufaturadas
Furcare.
Na Nicola só tinha ficado
Durval Nicola. Mas em 1967, depois de conversar com Bellini, ele vendeu sua
parte e se juntou aos irmãos na Furcare, que depois foi chamada Nimbus e nos
anos de 1970 comprada pela Marcopolo.
FIM DA ERA NICOLA:
Sem nenhum Nicola na empresa,
não havia mais sentido de permanecer com o nome Carrocerias Nicola. Não só por
questões de marketing, mas também jurídicas futuras.
O novo nome da empresa surgiu
pelo sucesso de um modelo: era o Marcopolo, apresentado oficialmente no VI
Salão do Automóvel.
O sucesso não foi à toa. O
modelo apresentava inovações na estrutura e estéticas que chamavam a atenção
como maior área envidraçada, janelas inclinadas em ângulo e faróis dianteiros
redondos grandes, dois de cada lado.
O produto ganhou mais destaque
que a produtora.
Foi essencial então para a
definição da marca. O mercado conhecia mais o Marcopolo, aquele da Nicola, do
que a própria empresa, depois do lançamento do modelo.
Mas entre a saída do último
Nicola da empresa e a definição da marca Marcopolo, foram discutidos diversos
nomes. A empresa fez uma pesquisa com psicólogos, sociólogos, frotistas,
empregados.
Não apenas em relação a fixação
da Marca, mas o Marcopolo ajudou a divulgar a empresa e os outros produtos,
inclusive urbanos.
Foi a partir daí que a
encarroçadora engatou um forte ritmo de expansão.
Nos anos de 1970, havia
adquirido marcas como a Nimbus/Furcare, que havia sido também fundada pelos
Nicola, e a Carrocerias Eliziário, comprada pelos Nicola e depois adquirida
pela Marcopolo.
A marca também possuía a Invel,
de ônibus de pequeno porte e veículos especiais, como ambulâncias. Guardadas as
devidas proporções, era como a Volare nos dias de hoje.
Também nos anos de 1970
participa de um dos maiores acontecimentos do setor de transportes: a criação
do BRT – Bus Rapid Transit, o sistema de corredores rápidos e modernos,
desenvolvido pelo prefeito Jaime Lerner, de Curitiba, e implantado em sua
gestão no ano de 1974.
O sistema compreende numa
democratização do espaço público dando prioridade ao transporte coletivo que
transporta muito mais pessoas em menor área se comparado com o transporte
individual.
Além das canaletas (corredor
segregado), novos pontos, informações aos passageiros, Jaime Lerner pensou em
um veículo mais confortável, de maior capacidade, acessível e menos poluente,
apesar de não serem ainda grandes os apelos pelo meio ambiente e pelo direito
de ir e vir dos portadores de limitações físicas.
A Marcopolo desenvolveu o
modelo Veneza Expresso, a partir do já consagrado Veneza, porém com várias
modificações, como altura do piso em relação ao solo menor, maior
aproveitamento do espaço interno com bancos laterais, mais área envidraçada e o
motor Cummins oferecia mais potência e conseguia emitir menos poluentes.
As marcas Eliziário e Nimbus
Furcare iam saindo do mercado com o passar do tempo.
Nos anos de 1980, a empresa
decide inovar e criar Gerações de produtos.
Em 1983, surgia a Geração IV.
Mas por que não geração I, se era a primeira nomenclatura de Geração?
Porque a Marcopolo contava a
partir da série de seus “Marcopolos”, que eram I, II e III.
O modelo Marcopolo
desapareceria para ficar só sendo marca, que já havia ganhado personalidade e
surgiam modelos como Torino, no segmento de urbano, e Viaggio e Paradiso, no de
Rodoviários. Nomes bem italianos a lá Paulo Bellini.
A Geração V foi lançada em 1992
e era marcada por uma nova estrutura de carrocerias, com perfis tubulares e não
mais abertos em forma de “U” ou cartola. Esta estrutura se assemelhava ao
modelo Europeu.
Em 2000 era lançada a Geração
VI, com linhas mais arredondadas, e na estrutura aperfeiçoando os perfis
tubulares e aplicando mais longarinas inteiriças e partes em aço galvanizado,
um material leve, mas ao mesmo tempo resistente à corrosão.
Em junho de 2009, mantendo os
mesmos nomes nos rodoviários, Viaggio para veículos mais simples e Paradiso
para os mais aprimorados, foi colocada o mercado a Geração VII, num momento
essencial da indústria.
As renovações previstas nas
frotas, o aquecimento da escolhida, o preparativo das empresas para a Copa do
Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016 e para a licitação das linhas rodoviárias
interestaduais e internacionais pela ANTT, além da crise da maior concorrente
do segmento, a Busscar, que teve de interromper a produção por não suportar
dívidas trabalhistas, fiscais e com fornecedores, a Geração Sete logo ganhou as
principais cidades do País, com veículos em pequenas transportadoras ou
gigantes do setor.
OTIMISMO APESAR DA CRISE:
Em nota, neste ano de 2016, a
Marcopolo diz que criatividade é essencial para enfrentar o atual momento de
crise e que mais uma vez homenageou os trabalhadores pelo aniversário da
empresa:
Em meio aos grandes desafios
que o País enfrenta, a Marcopolo celebra mais um ano de atividade, o seu 67º
aniversário. Neste momento delicado para todos os cidadãos brasileiros, a
empresa investe na criatividade, comprometimento e dedicação para, junto com as
suas tradicionais virtudes de foco nas pessoas, velocidade de resposta e
flexibilidade, continuar sua trajetória de superação.
Uma das ações tradicionais em
comemoração ao aniversário da empresa é o Dia do Colaborador Marcopolo, que este
ano foi celebrado em 5 de agosto. A data é um reconhecimento a todos os
profissionais de diferentes funções que fazem parte do quadro da empresa e
conta com refeição especial, música e um presente para os colaboradores
Marcopolo.
A premiação “Honra ao Mérito”
homenageia os colaboradores que completam múltiplos de 5 anos de serviços
prestados à empresa e que neste ano atingem 1.226 pessoas. Em sua 31ª edição, o
“Honra ao Mérito” tem número recorde de homenageados com 25 anos de empresa –
121 pessoas – os quais participarão de jantar festivo onde receberão um boton
de ouro e posteriormente viajarão ao nordeste com acompanhante. O Honra ao Mérito destaca os profissionais
que, com o seu trabalho e dedicação, vêm contribuindo para transformar a
empresa em uma das líderes mundiais no seu segmento de atuação. Os eventos
acontecem nas unidades de Caxias do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e São
Mateus.
Nesses 67 anos, a Marcopolo
tornou-se referência na produção de ônibus, construindo uma marca fortíssima
conhecida em todo o mundo. E para dar continuidade à sua busca por maior
competitividade, a empresa está trabalhando num processo de revitalização do
SIMPS/SUMAM, sistema que utiliza desde 1986, tendo como base os princípios da
Filosofia Lean.
Esses programas ressaltam o
grande diferencial da empresa, que é a capacidade de fazer acontecer com
pessoas dedicadas, com qualidade, segurança e eficiência.
Adamo Bazani,
jornalista especializado em transportes
Digitação: Wilson
Bazani