Fonte: Blog Ponto de Ônibus
Mobilidade
inteligente: Novas Tecnologias de Informação e Comunicação podem contribuir
para tirar 20 milhões de carros das ruas até 2025
Por Renata Cardarelli
Novos modelos de negócio no
âmbito da mobilidade podem gerar, até 2025, uma economia de R$ 650 bilhões em
infraestrutura viária e remover 20 milhões de carros das ruas.
Os dados são da pesquisa Environmentally
Sustainable Innovation in Automotive Manufacturing and Urban Mobility,
divulgada por companhias britânicas especializadas em tecnologia da comunicação
(BT e Frost & Sullivan).
Não é novidade que os métodos
tradicionais de transporte estão mudando graças às novas tecnologias, como por
meio de aplicativos de demanda de taxis ou carros e caronas coletivas, como
Uber, Blablacar ou Uber Pool. A novidade que a pesquisa traz é que poluição,
congestionamentos e questões ligadas à segurança no trânsito podem ser
mitigadas por meio do uso de novas tecnologias tanto no setor de manufatura
quanto nos usos cotidianos das redes de mobilidade urbana.
Segundo o relatório, em nove
anos, as emissões de gás carbônico seriam reduzidas em 56 Mt referentes ao
menor uso de carros e 121 MtCO2e referentes à cadeia de manufatura, por meio do
uso das novas tecnologias. “As NTIC (Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação) são centrais para o futuro de uma mobilidade inteligente. Se o
transporte é a força vital da cidade, a tecnologia está se tornando o seu
sistema nervoso”.
Manufatura:
A tecnologia aliada à manufatura
desenvolve um novo paradigma chamado de “indústria 4.0”, alavanca as NTIC, a
integração da cadeia de suprimentos e a economia circular. “Como a quantidade
de dióxido de carbono gerada na fase de manufatura é igual ou maior (dependendo
do modelo) da quantidade emitida na fase de uso, o potencial para reduzir o
número total de veículos necessários pode contribuir significativamente com a
sustentabilidade”.
No mercado globalizado, as
companhias são obrigadas a procurar formas de minimizar riscos e otimizar os
custos da cadeia produtiva, requerimentos regulatórios, reputacionais e
comerciais. Nos últimos dez anos, por exemplo, a economia circular já trouxe
benefícios, de acordo com dados da ACEA (Association des Constructeurs
Européens d’Automobiles ou Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis, em
português). Entre os aspectos positivos estão:
– Redução de
12,4% no consumo de energia por automóvel produzido;
– Redução de
39,2% no consumo de água por automóvel produzido;
– Redução de 25,4% nas emissões de dióxido de
carbono por automóvel produzido;
– Redução de 5,4% do lixo gerado a cada automóvel
produzido.
Muitas empresas eram relutantes
com relação à sustentabilidade, porém o tema tem se tornado uma oportunidade de
negócio para muitos fornecedores, que se valem da “ecoinovação” para buscar
avanços com relação ao desenvolvimento sustentável. Algumas montadoras começam
a usar, por exemplo, os chamados “materiais verdes”, como plásticos reciclados
e matérias-primas recicláveis. O uso de polímeros recicláveis tem ajudado as
companhias a minimizarem a emissão de dióxido de carbono.
Outra opção apontada pelo estudo
é a remanufatura, que consiste em “retornar um produto para, pelo menos, sua
performance original, com a garantia de que ele será equivalente ou melhor do
que um novo produto manufaturado”. O processo de remanufatura de peças
compostas por alumínio e aço, evitaria o lançamento de 2 toneladas de CO2e, a
cada carro produzido.
Por meio do uso das novas
tecnologias, a indústria pode inovar no design, melhorar a eficiência
operacional dos veículos e maximizar a produtividade. Como exemplo, a pesquisa
cita a o StreetScooter, veículo elétrico desenvolvido pela Universidade de
Aachen, na Alemanha, que usou uma plataforma digital para integrar ideias de 30
fornecedores, facilitando o estabelecimento de uma rede colaborativa para a concretização
do projeto.
As empresas também terão que
aprimorar a habilidade em responder às demandas do mercado por novos produtos
por meio de um processo de produção dinâmico e flexível. A montadora chinesa
South East (Fujian) Motors usou uma plataforma de gerenciamento para encontrar
uma solução integrada sobre o ciclo de vida dos produtos, passando por todas as
etapas, desde a idealização até a produção. O modelo contribuiu para dar
celeridade ao atendimento da empresa à demanda do mercado, além de gerar
economia de R$ 6,3 milhões.
Usuários:
Com relação às preferências dos
consumidores, a pesquisa indica que há evoluções do atual modelo de posse para
soluções baseadas em acessibilidade à rede de transporte. “Os novos serviços de
mobilidade estão começando a prosperar em alguns centros urbanos, oferecendo
aos usuários menores custos, flexibilidade e alternativas multimodais aos
automóveis particulares, além de oferecer às cidades redes de locomoção
sustentáveis, atualizadas e controladas”. Há opções de carros híbridos ou
elétricos, cujos preços devem cair em 60% até 2025 e, entre as alternativas ao
carro privado – que já começaram a prosperar -, o documento lista transporte
público, sistema de estacionamento inteligente (smart parking), ciclovias e
serviços sob demanda ou compartilhados e os seguintes benefícios:
– Serviços
sob demanda podem gerar economias de 46 bilhões de libras para os usuários e
tirar 10 milhões de carros das ruas, evitando a emissão de 15 MtCO2;
– Compartilhamento de carros tem potencial de
economia de 40 bilhões de libras e de remover 7 milhões de automóveis das ruas,
evitando a emissão de 13 MtCO2;
– Sistemas
de estacionamento inteligente podem gerar economias de 49 bilhões de libras e
23 MtCO2, como resultado de menos gasto de tempo e de combustível.
A “mobilidade inteligente” pode
ser alcançada por meio de dados e análises que contribuam para entender a rede
de transportes. O mercado global do sistema de gestão de informação integrada
(Intelligent Transport Systems) deve se expandir e saltar dos 140 bilhões de
libras (2015) para 900 bilhões de libras, até 2025.
Algumas ações estão sendo
colocadas em prática para desenvolver a tecnologia e aliá-la à infraestrutura
urbana e ao open data (dados abertos), como na cidade de Milton Keynes, na
Inglaterra. Em andamento desde 2013, a iniciativa prevê uma central de dados,
com a integração de 440 fontes como redes de transporte, energia e água,
sensores de temperatura e informações colaborativas por meio de mídias sociais.
O objetivo é fazer com que a população mude seus hábitos relacionados ao
transporte, além de reduzir o número de carros particulares nas ruas.
Diante de um cenário de aumento
da população global e da urbanização – que em 2014 era de 54% e deve chegar a
66% em 2050 –, a pesquisa ressalta a urgência da melhora na infraestrutura
existente, especialmente nos países emergentes. As soluções e serviços
apresentados na pesquisa demonstram a importância da conectividade e das NTIC
com relação ao desenvolvimento da mobilidade. Por meio dessas soluções, os
usuários se beneficiarão com uma rede mais segura, sustentável e barata.
O relatório completo está
disponível em:
https://www.btplc.com/Purposefulbusiness/Ourapproach/Ourpolicies/cars2025report.pdf
Renata Cardarelli é jornalista, especialista em redes digitais
e sustentabilidade e atua como analista de comunicação em sustentabilidade.
Passou pelas redações de Rádio Globo, Comunique-se, InfoMoney e Revista CULT.
Contribuiu também com Rádio Eldorado, Rádio Gazeta AM e Universo Jatobá.
Escreveu este artigo especialmente para o Blog Ponto de Ônibus