Fonte: Fetronor
Somente no RN, 14 foram atacados nos dias 30 e 31 de julho
Nos sete primeiros meses de
2016, aproximadamente 180 ônibus do transporte público de passageiros foram
incendiados em todo o país. Isso representa uma média aproximada de 26
ocorrências por mês, ou quase um por dia.
Nesse fim de semana, uma onda
de ataques registrada no Rio Grande do Norte resultou em pelo menos 14 ônibus e
vans totalmente destruídos. Os atos ocorreram como retaliação à implantação de
bloqueadores de celulares em presídios localizados no estado.
O número, divulgado pelo
Setrans/RN (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Rio Grande
do Norte) e pelo Seturn (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Natal),
contabiliza veículos que faziam o transporte regular urbano e interurbano na
região metropolitana de Natal. Mas também foram alvo de ataques veículos
utilizados em outros serviços de transporte.
Conforme o consultor do Seturn,
Nilson Queiroga, isso fez o sistema paralisar e há incertezas sobre a
normalização. "O primeiro ataque foi na sexta-feira. No sábado, houve
reforço policial e os ônibus saíram das garagens. Mas somente em um terminal
queimaram três veículos. Houve ameaças, bateram em operador que estava no
terminal. Então o sindicato recolheu a frota. Domingo nenhum ônibus circulou.
Nesta segunda, o governo nos pediu para operar, mas temos que avaliar, porque
não há garantia de policiamento para que a operação normalize", diz ele.
Desde 2004, dados da NTU
(Associação Nacional de Transportes Urbanos) indicam que foram cerca de 1,7 mil
ônibus urbanos incendiados. "Em qualquer manifestação, por qualquer
motivo, que nem tem ligação com transporte, aquele grupo de pessoas opta por um
incêndio a ônibus, porque vai chamar a atenção. O ônibus acabou virando um
símbolo de protesto sem ser, na maioria dos casos, o pivô daquela
insatisfação", analisa o diretor-executivo da entidade, Marcos Bicalho.
Ele alerta sobre o risco que
isso representa à vida de motoristas, cobradores e passageiros: "tem uma
questão que é a vida humana. Na maioria das vezes, os ônibus estão carregando
passageiros. Já tivemos casos de morte, inclusive de crianças".
Estimativa feita pela NTU
indica que o prejuízo total, desde 2004, já ultrapasse R$ 1 bilhão. O valor
contabiliza os custos de reposição dos veículos, a receita que deixou de ser
obtida dos passageiros que não foram transportados, além das horas não trabalhadas
pelos usuários que não utilizaram o transporte público em razão do problema.
Neste ano, calcula-se que 160 mil viagens individuais deixaram de ser feitas,
com um impacto financeiro de mais de R$ 90 milhões.
Apenas a aquisição de novos
ônibus para substituir os que foram destruídos em 2016 já custou mais de R$ 29
milhões às empresas. De acordo com Bicalho, isso eleva o custo operacional do
serviço e, depois, impacta no aumento das tarifas do transporte coletivo.
A NTU trabalha junto ao
Legislativo para aprovar leis específicas que agravem a punição para esse tipo
de conduta. "Continuamos buscando em outras legislações o agravamento
dessas penas, porque o que ocorre hoje é que a maioria desses crimes é
classificada de forma muito branda, como atentado ao patrimônio. Isso incentiva
qualquer movimento, qualquer forma de protesto, a ter uma ação de incêndio em
ônibus", explica Bicalho.
No entanto, para a NTU, a
conduta também pode ser enquadrada como ato de terrorismo, já que o artigo 1º
da Lei Antiterrorismo (13.260/2016) classifica como tal "sabotar o
funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa (...) de
meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações
ferroviárias ou rodoviárias (...)". A pena prevista é de 12 a 30 anos de
prisão.
Fonte: CNT e NTU